O conceito desenvolve-se a partir do estudo do organigrama funcional do programa. Percebemos que ao trabalhar cada compartimento como um modulo individual, como uma construção autónoma, teríamos diversas vantagens, do ponto de vista da organização espacial como da sustentabilidade da própria casa. A articulação dos diversos volumes surge numa fluidez espacial entre cheios e vazios, entre o interior e o exterior. Estabelece-se a construção entre volumes e pátios interiores.
Os pátios assumem um papel crucial na relação entre o habitar, e na relação com a natureza e com o mar. Durante todo o ano permitem ser utilizados como espaços interior / exterior. No inverno, fechados, criam um clima confortável, no verão, abertos e protegidos do sol, um espaço mais fresco que a temperatura exterior. Conforme a estação podem ser considerados espaços interiores como exteriores, mantendo um papel activo e funcional durante todas as estações do ano.
A nível da sustentabilidade os pátios no inverno funcionam como estufas aquecendo os espaços adjacentes, no verão pelo processo inverso as coberturas de vidro dos pátios são protegidas pelos sombreamentos exteriores, as portas de vidro abrem-se e passam a ser espaços exteriores arrefecendo o ar antes de entrar no interior da casa. Os pátios funcionam sempre como uma espaço intermédio entre o interior e o exterior, com um clima próprio, que no inverno aquece o ar antes de entrar e no verão o arrefece.
A solução de cada espaço em ser um volume autónomo, aumenta as perdas pela envolvente pois existe mais superfície exterior do que se os compartimentos estivessem contíguos, mas com os pátios/estufa essas perdas anulam-se e convertem-se em ganhos.
Os planos inclinados das coberturas proporcionam espaços amplos no interior, incrementando a qualidade do ar, permitindo que o ar saturado suba mais alto e se misture com mais ar, atenuando as toxinas nele existentes.
A qualidade espacial também é incrementada pelos espaços interiores amplos e desafogados, resultam mais confortáveis e não implicam um maior consumo energético. A casa pelas estratégias bioclimáticas adoptadas necessita apenas de ser aquecida pontualmente em situações extremas.Para tirar mais partido da solução optamos por implementar grelhas de ventilação natural nos topos da cobertura de cada volume e nas caixilharias das janelas, intensificando a ventilação natural. Na estação de arrefecimento o ar quente sobe e é extraído naturalmente pelo ponto mais alto, no inverno as grelhas superiores ficam fechadas de forma a não se perder o ar quente, porém as grelhas das janelas permanecem activas permitindo a renovação do ar durante todas as estações ( aberturas auto-reguladas certificadas ).
O sistema de recolha de água das chuvas consiste numa caleira oculta na intersecção dos telhados que conduzem as águas para tubagens colocadas entre as paredes dos volumes, dirigindo a água para uma cisterna enterrada que depois é bombeada por uma rede independente para as descargas sanitárias e para rega.
O sistema de construção dos volumes consiste em paredes e tectos em betão, isoladas por um sistema continuo pelo exterior que garantem a eliminação das pontes térmicas. O betão garante a inércia térmica em contacto com o ambiente interior para condicionar as temperaturas tendo em vista o binómio energia-conforto.
Para o revestimento final exterior, escolhemos o uso de vigas de madeira reciclada,provenientes das linhas de comboio desactivadas no norte do pais,que têm vindo a ser reconvertidas em eco pistas para actividades de lazer. A madeira após tratada e rectificada é utilizada como revestimento exterior da construção.
Os vãos foram calculados de forma a existir um equilíbrio entre ganhos e perdas. Nas fachadas orientadas a sul os vãos são maiores, nas fachadas a poente são mais controlados e a norte mais fechados. As caixilharias são de controle térmico com aberturas auto-reguladas certificadas.
Os sombreamentos exteriores dos vãos, consistem num sistema de lâminas horizontais orientáveis, permitindo reflectir os raios solares não desejados e ao mesmo tempo usufruir da vista de mar. Nas estufas/pátios utiliza-se um sistema de lonas black-out integradas na própria caixilharia permitindo cobrir completamente a parte superior durante o verão. As portas de vidro dos pátios não têm qualquer protecção. Na estação de aquecimento permanecem fechados e na estação de arrefecimento abertos.
O edifício foi projectado de forma a não necessitar de sistemas de arrefecimento mecânicos, mas na estação de aquecimento poderá ser necessário pontualmente ter alguma fonte de calor, quando os meios passivos não consigam por si só climatizar toda a casa. Nesses momentos e derivado ao local onde se situa a casa rodeado de pequenos bosques, utiliza-se um sistema de aquecimento a biomassa por meio de recuperador de calor.
Os sistemas solares térmicos, para produção de AQS, são constituídos por dois colectores com área total superior a 4m2 calculado para 4 ocupantes.
As pendentes das coberturas foram definidas pela inclinação mais favorável para os colectores solares para obterem maior rendimento, calculado segundo o software solterm. A integração dos painéis na arquitectura era um dos objectivos da proposta. Acreditamos que as soluções sustentáveis devem fazer parte da arquitectura como um todo.
Área útil : 292 m2 ;
Área pátios : 71,20 m2 ;
Área bruta : 421 m2;"